"Sabes qual é um erro que cometemos sempre? Acreditar que a vida é imutável, que, mal escolhemos um carril, temos de o seguir até ao fim. Contudo, o destino tem muito mais imaginação do que nós. Precisamente quando se pensa que se está num beco sem saída, quando se atinge o cúmulo do desespero, com a velocidade de uma rajada de vento tudo muda, tudo se transforma, e de um momento para o outro damos por nós a viver uma nova vida."
Susanna Tamaro, Vai aonde te leva o coração
Há um ano escrevi sobre mudança no 25 de abril e agora, volto a escrever. (Ainda não tinha chegado a esta passagem do livro na altura, mas quando a li, fez muito sentido.)
Há um ano, durante o mês em que a minha mãe esteve no hospital, senti-me maltratada. Fizeram-me críticas, exigências... algumas um pouco absurdas... e o meu esforço não terá sido o suficiente para compreenderem que havia coisas que não dependiam de mim.
Mas para quem estava apenas a assistir, era tudo muito simples... Enquanto eu lutava para superar a situação e punha à prova as minhas resistências fisica e emocional, não existia um auxílio ou uma presença. Já não podia contar com a pessoa que sempre me ajudara, pois era ela quem agora precisava ser cuidada por outros. A minha mãe era a força em pessoa, até ser vencida pela doença. E sei, que ela nunca permitiria que me maltratassem, como eu, por vezes, permiti.
Foi uma segunda-feira muito dolorosa. Queria a minha mãe de volta a casa mas, com o fim do dia, chegou a noticia de que ela estava em coma. Tudo tinha mudado, sem esperança de regresso. Por mais que eu a chamasse, os olhos dela não reagiam e o corpo apenas manifestava movimentos espontaneos.
Duas amigas acompanharam-me ao hospital. Foi importante sentir que estavam comigo, enquanto que de outros sentia incompreensão e distância. Palavras acompanhadas de acções;é assim que, amigos e familia, estão presentes e revelam sinceridade, pois não falaram apenas para colmatar um silêncio incómodo.
Por instantes quase que sinto que é possível voltar atrás, ao momento antes da entrada em coma, e estar mais tempo com ela. Quase que sinto que é possível voltar atrás e dizer-lhe que gosto dela, quase que sinto que poderia ter ignorado as pessoas que me magoaram como se nada significassem para mim, quase que consigo evitar ter-me colocado na situação de me deixar ser maltratada...porque teria sido isso que ela também desejaria. Quase que sinto que estamos juntas e ela me protege ainda!
Há um ano lutei pela mudança. Enquanto for possível, hei-de continuar a querer mudar, sempre no sentido de evoluir. Hei-de querer alterar o que me magoa, começando pelos maus juízos e maltratos alheios. Precisamos de nos permitir ter liberdade para mudar e evoluir.
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